Por Daniel Gaio (Secretário de
Meio Ambiente)
O Dia
Mundial Sem Carro foi uma iniciativa lançada no final dos anos 1990 e que
ganhou força ao longo da década seguinte, sendo celebrada em diversas cidades
do mundo todo no dia 22 de Setembro. Seu objetivo é incentivar as pessoas a
refletirem sobre o uso excessivo dos automóveis pessoais e a dependência que
muita gente cria em torno deles, ignorando os meios coletivos e alternativos,
assim como os seus impactos no meio ambiente e na nossa saúde. Longe de se
propor como uma solução aos problemas da mobilidade urbana uma vez ao ano as
pessoas evitarem o uso de carro, a ideia é ajudar a fortalecer essa pauta.
No Brasil, a
pauta da mobilidade urbana é historicamente negligenciada. Além do transporte
público frequentemente precário, muitas vezes ele se limita aos ônibus e quase
nenhuma cidade brasileira conta com transporte subterrâneo (metrôs), apenas
recentemente os veículos leves sobre trilhos (VLTs) passaram a ser
implementados e nem ao menos investimento em ciclovias, para incentivar
alternativas de transporte individual, costumam existir. Esse debate só cresceu
nos últimos anos por causa do aumento vertiginoso de carros nas cidades
brasileiras, reflexo do crescimento da renda e consumo da população brasileira
de 2003 em diante, sem a maioria das prefeituras e governos estaduais terem se
preocupado em fazer sua parte na modernização eficaz das políticas de
mobilidade. Para se ter uma ideia, de acordo com o Observatório das Metrópoles,
entre 2002 e 2012 enquanto o crescimento da população brasileira foi de 12,2% o
de número de veículos foi 138,6%.
Esses
problemas afetam diretamente a qualidade de vida dos trabalhadores e
trabalhadoras, em especial que habitam as periferias e “cidades-dormitórios”
das grandes metrópoles, que dispensam longos períodos para se deslocar até os
seus locais de trabalho. Ainda que os problemas de mobilidade urbana sejam
evidentes e prejudiquem a todos e todas, a cultura individualista do automóvel
próprio e recusa ao uso do transporte público, presentes em especial nas
classes médias e altas e muito reverberada pelos grandes meios de comunicação,
geram forte oposição aos avanços nessa área. O caso atual mais evidente é o de
São Paulo, onde a prefeitura de Fernando Haddad investiu na criação de faixas e
corredores exclusivos de ônibus, ciclovias, além da redução dos limites de
velocidade, tendo como resultado a diminuição do tempo consumido no trajeto
casa-trabalho, do engarrafamento e também de acidentes. Mesmo com os avanços
inegáveis, os setores conservadores preferem atacar essas mudanças e as três
principais candidaturas da direita paulistana pretendem reverter parte dessas
políticas.
Além disso,
o Brasil ainda subsidia pouco a tarifa do seu transporte público, além de
frequentemente ter suas frotas totalmente privatizadas com contratos muito
benéficos aos empresários. A diminuição do valor da tarifa e expansão do passe
livre para os setores de menor renda como estudantes, desempregados, idosos
etc, tendo como horizonte o passe livre geral e irrestrito, são fundamentais
para garantir o acesso ao transporte público de todos e todas o que é
indispensável para o exercício do direito à cidade.
Portanto
aproveitamos o Dia Mundial Sem Carro para reforçar e relembrar ao movimento
sindical a importância da luta pela mobilidade urbana, lembrando o momento
chave das eleições municipais para exigir de candidatos e candidatas o
compromisso com o desenho e a implementação de políticas públicas que priorizem
um transporte público integrado e amplo com participação da população.
Nesse ano em
que a data coincide com o Dia Nacional de Paralisação e Mobilização vamos para as ruas sem carro para lutar pela
democracia, contra o golpe e aquecer a nossa Greve Geral.